quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Alemanha 1919 – 33

Quando os soldados, marinheiros e operários derrubaram o Kaiser em 1918, o SPD, então abertamente reformista, tornou-se um dos principais bastiões da velha ordem. Revolucionários como Rosa Luxemburgo, Clara Zetkin e Karl Leibknecht encontraram-se isolados e marginalizados. Rosa Luxemburgo e Liebknecht foram assassinados sob as ordens da SPD, e o capitalismo sobreviveu graças à capacidade do SPD em manter o apoio de milhões de trabalhadores.

Quando os operários e soldados tomaram de assalto o palácio do Kaiser, Magnus Hirschfeld dirigiu-se Às multidões anunciando a aurora de uma nova era e o fim de toda a exploração e opressão. Mas essa nova era seria o fruto não de uma revolução a partir de baixo, mas sim pela tomada do aparato estatal pelo SPD. Com a república de Weimar, pela primeira vez um partido reformista assumiu o governo. Assim, pouco surpreende que os trabalhadores tenham apoiado inicialmente “seu” governo. Mas a medida em que o governo se mostrou incapaz de resolver a profunda crise pela qual passava a Alemanha, o nível da luta de classes elevou-se agudamente.

O elevado nível de luta de classes na Alemanha refletiu-se não só na quantidade de greves e na militância partidária, mas em todos os aspectos da vida. Foi em 1919, que Hirschfeld estabeleceu a sua Fundação para a Pesquisa Sexual e o seu famoso Instituto para a Ciência Sexual em Berlim. Em 1921, ele contribuiu para a convocação e realização da Liga Mundial pela Reforma Sexual, a qual assumiu as leis soviéticas como exemplo e meta para o resto do mundo.

Hirschfeld foi empurrado para a esquerda pelo curso dos acontecimentos, mas permaneceu até o fim como um reformista e membro do SPD – somente mais tarde ele questionou alguns aspectos do seu reformismo. Ele via a república de Weimar como sendo a melhor base para educar as massas, mesmo quando descobriu que tinha que buscar o apoio dos comunistas para conseguir reformas.

Berlim tornou-se o centro de uma cultura gay. A desintegração da velha sociedade, a inquietação e o questionamento dos velhos valores criou um espaço para a tolerância em relação à homossexualidade. Pessoas que, como os escritores ingleses Christopher Isherwood e W. H. Auden (ambos “companheiros de viagem” do Partido Comunista dos anos 30) tinham condições para tanto, iam a Berlim como hoje vão a San Francisco ou Amsterdã. Como disse Isherwood, “Para nós Berlim significava garotos”. Ao contrário da repressiva Grã-Bretanha, lá era possível ser abertamente gay.

Era uma situação que não podia durar. A crise e a recessão que se seguiram à guerra atingiram a Alemanha mais do que qualquer outro lugar. A Alemanha tinha uma classe trabalhadora organizada e poderosa. Havia pouco campo para reformas prolongadas, pois o sistema não podia sustentá-las. A luta durou mais de dez anos, terminando finalmente com o esmagamento de todas as organizações operárias pelos nazistas.

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