quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Stonewall e a ascensão da libertação gay

Foi somente no final da década de 50 que o edifício stalinista começou a rachar. Na Hungria em 1956, Checoslováquia em 1968 e na Polônia em 1970, a luta dos trabalhadores, que estava paralisada há mais de duas gerações, voltou para ameaçar os governantes do Ocidente e do Leste.

Mas foi no Ocidente que o movimento se fez sentir mais, remodelando o pensamento da esquerda. A revolta de Stonewall, com a subseqüente criação da Frente de Libertação Gay [FLG], foi um marco para a reintrodução da luta pela libertação gay na política da esquerda. Mas, do mesmo modo como nos períodos anteriores, devemos compreender essa nova evolução da política gay dentro do contexto mais amplo da luta de classes.

Stonewall ocorreu em um momento de ascenso da luta de massas. Houve muitas revoltas dos oprimidos através da história do capitalismo, mas é apenas nos momentos em que há um alto nível de luta generalizada que essas revoltas podem gerar resultados significativos. A revolta de Stonewall levou diretamente à criação de um movimento político, do mesmo modo que as revoltas negras dos anos 60 nos EUA levaram ao nascimento do Partido dos Panteras Negras. A FLG foi um fruto do avanço das lutas políticas.

Esse próprio ascenso foi o resultado de vários fatores. Foi em parte uma conseqüência das mudanças do próprio capitalismo. Com o longo boom do pós-Guerra, o maior de toda a história do capitalismo, o sistema atravessou as décadas de 40 e 50 até chegar aos anos 60 sem passar pelas recessões típicas à natureza cíclica da economia capitalista. Houve uma falta de mão-de-obra nas economias em expansão do Ocidente, e, assim, milhões de mulheres tornaram-se trabalhadoras nas novas indústrias em crescimento. A vida familiar tradicional mudou rapidamente.

A expansão minou a família, empurrando as mulheres ao mercado de trabalho, dando-lhes assim um grau muito maior de independência econômica, e concedendo reformas que, de algum modo, foram de encontro às aspirações crescentes dos trabalhadores. O Estado do bem-estar social foi a mais importante dessas reformas: e embora estivesse imbuído de todo o lixo sexista e reacionário do sistema, ajudou a libertar as mulheres da prisão do lar.

O advento da pílula e a disponibilidade de um amplo serviço de aconselhamento contraceptivo finalmente cortaram o laço entre sexo e reprodução para os heterossexuais.

Os dias em que a classe trabalhadora só possuía a família para recorrer, como havia sido durante o desemprego de massas nos anos 30, estavam terminados. As mulheres trabalhadoras estavam livres do constante temor da gravidez. Os "permissivos" anos 60 foram, pelo menos em parte, conseqüência do próprio crescimento do capitalismo. A elevação do padrão de vida e as expectativas crescentes levaram a uma crise dos velhos valores morais que haviam dominado a primeira metade do século.

Mas o fator mais importante foi a luta que minou a força das idéias reacionárias. Após as derrotas das décadas de 20, 30 e 40, a classe trabalhadora cresceu numericamente e ganhou confiança com as lutas que começou a travar nos anos 50. As greves eram curtas, mas eram freqüentes e em sua maioria eram vitoriosas. Essa foi a base para o grande ascenso das lutas de massas no final dos anos 60.

O sistema, tanto no Ocidente quanto no Leste, foi abalado pela onda massiva de lutas que varreu o mundo - o movimento anti-guerra nos EUA, a revolta operária e estudantil na França e a "Primavera de Praga" em 1968, Itália em 1969, Grã-Bretanha em 1972 e 1974, Portugal em 1974.

A guerra do Vietnã tornou-se um foco importante para essa maré de revolta e luta. Nos EUA, o movimento contra a guerra envolveu milhões de pessoas, e as manifestações em Washington aglutinavam centenas de milhares. Os guetos negros foram o cenário de grandes revoltas com as massas de trabalhadores negros exigindo direitos iguais e questionando a sua opressão. O movimento de mulheres conheceu idêntico crescimento. Foi uma época em que o sistema estava sendo desafiado por todos os lados, quando a opressão estava sendo reconhecida e combatida. Foi uma época em que a esquerda revolucionária saiu do isolamento e passou a crescer rapidamente. E foi também o renascimento da política gay com a revolta de Stonewall.

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