quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Os Bolcheviques

Das cinzas da II Internacional em 1914 e da Revolução Russa de 1917 surgiu a III Internacional em 1919. O SPD, desacreditado pelos internacionalistas, já não era o centro do movimento socialista. A vitória da Revolução Russa tornou-se a principal fonte de inspiração e de direção para os revolucionários e para os milhões de trabalhadores em revolta contra a velha ordem.

Uma onda de lutas revolucionárias varreu a Europa após a I Guerra Mundial. Operários ocuparam fábricas, tomaram de assalto palácios e abalaram o domínio do capital desde Moscou a Glasgow e da Finlândia à Catalunha. Muitas das velhas estruturas de poder foram destruídas. Mas somente na Russa a maré da revolta trouxe à luz um estado operário. Os velhos partidos da II Internacional aliaram-se com as suas classes dominantes para restabelecer a “ordem”. Os internacionalistas, junto com os bolcheviques, formaram a III Internacional e tentaram construir partidos comunistas com base no exemplo russo.

Do mesmo modo como no período anterior a historia da política sexual era parte da historia da esquerda, no século XX ela esteve ligada ao destino da revolução.

Em dezembro de 1917, dois meses após a revolução, os bolcheviques aboliram todas as leis contra a homossexualidade. Ao mesmo tempo o aborto foi legalizado, o divorcio foi garantido e as leis de maioridade foram abolidas. Em dois meses, os bolcheviques conseguiram mais do quem em décadas de reforma liberal no outros países. As liberdades legais garantidas pela revolução foram mais amplas do que quaisquer outras conquistadas antes ou depois da revolução.

Mas os bolcheviques não pode ser julgados apenas por suas palavras. Ao lado das novas leis houve uma tentativa seria para criar alternativas À família, e assim destruir a base material da opressão da mulher. Restaurantes, lavanderias e creches comunais foram estabelecidos para possibilitar às mulheres escaparem da labuta das tarefas domésticas. Todas essas mudanças ocorreram em um país atrasado e destroçado pela guerra, e assim foram sempre limitadas pela pobreza da Rússia, da mesma forma como a própria revolução. Contudo, a Revolução Russa mostrou na prática como uma sociedade socialista poderia começar a erradicar as raízes da opressão sexual.

Como o bolchevique Grigorii Batkis escreveu em 1923:

“A atual legislação sexual na União Soviética é obra da revolução de outubro. Essa revolução é importante não apenas como um fenômeno político que assegura o papel político da classe trabalhadora. Mas também pelas revoluções que se desenvolveram a partir dela atingindo outras áreas da vida (...) (A legislação Soviética) declara a absoluta não interferência do estado e da sociedade em questões sexuais tanto quanto ninguém seja ferido ou tenha seus interesses violados – no que concerne à homossexualidade, sodomia e várias outras formas de gratificação sexual que são consideradas pela legislação européia como ofensas à moralidade. A legislação soviética trata-os de forma exatamente igual ao chamado intercurso ‘natural’.” (citado em Early Homossexual Rights Movement)

Delegados soviéticos foram enviados aos Congressos Internacionais da Liga Mundial pela Reforma Sexual (ela própria um produto do alto nível de luta em todos os campos que se seguiu À I Guerra Mundial) em Berlim em 1921, Copenhage em 1938 e Viena em 1930.

A prática e a política dos comunistas nos anos 20 contrastavam com as do SPD ou de indivíduos progressistas do período anterior. A sua meta não era conseguir a aceitação da homossexualidade, mas sim mudar a sociedade para esvaziar essa palavra de qualquer significado. A revolução buscava varrer, nas palavras de Marx, “toda merda do capitalismo” e substituir a base da opressão sexual – a família.

Mas se a revolução havia começado na Rússia, era na Alemanha que a sua vitória ou derrota seria decidida. A derrota da revolução alemã de 1919 e a ascensão de Hitler em 1933 foi o pano de fundo para o isolamento e a derrota da Revolução Russa. Isolada e acossada pela guerra civil e pelos exércitos invasores, a classe trabalhadora russa foi literalmente destruída enquanto classe. Já pelo início dos anos 20, os bolcheviques foram forçados a agir em nome de uma classe que estava desintegrando-se. No final dos anos 20, o processo de degenerescência estava bem avançado. A vitória de Stalin e da sua teoria do “socialismo num só país” em 1924 foi uma derrota esmagadora para a tradição socialista de combate pela libertação sexual. Uma das principais causas da vitória de Stalin foi a derrota da revolução alemã.

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