quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Stonewall

Era noite de sexta-feira no bar Stonewall, no dia 27 de junho de 1969. Estava cheio como sempre. Stonewall era um bar na Christopher Street, situado em Greenwich Village, centro de Nova Iorque. Como hoje, era o centro gay da cidade. Duzentos gays estavam presentes, todos homens, 50 ou mais travestis.

Stonewall era uma espelunca, e seus clientes eram, em sua maioria, jovens trabalhadores. Como a maioria dos bares gays, Stonewall era controlado pela Máfia, o que significava preços altos. O bar permanecia aberto apenas por causa das propinas pagas à polícia.

Para justificar os pagamentos a polícia fazia batidas ocasionalmente. Naquela noite quente de 1969, oito policiais resolveram dar uma batida em Stonewall. Eram apenas oito porque era um bar de "fadas" - quem já poderia imaginar que eles lutassem? Assim, não esperavam qualquer problema.

Para começar a batida seguiram a rotina de sempre - a polícia encheu os camburões para levá-los à delegacia. Lá seriam interrogados, mantidos para identificação e humilhados, a mercê dos policiais.

Mas, naquele dia, uma multidão começou a se juntar ao redor do bar, gritando e provocando a polícia. De repente a multidão, cada vez maior, começou a ficar cada vez mais zangada. Antes que se dessem conta do que estava acontecendo, os policiais se viram diante de uma multidão hostil que avançava sobre eles.

Os policiais recuaram, alguns com as pistolas sacadas, para dentro do bar vazio. A multidão libertou os gays que estavam dentro dos camburões e sitiou os policiais dentro do bar. Encurralados, os policiais ligaram para a delegacia pedindo auxílio.

A delegacia enviou a "Força Policial Tática", a tropa de choque de Nova Iorque normalmente usada somente no Harlem. Isso desencadeou uma revolta. Janelas foram quebradas, alarmes contra incêndio foram ativados, latas de lixo foram usadas como mísseis e os carros da polícia incendiados.

A revolta durou três noites, começando no crepúsculo e terminando ao alvorecer. A polícia foi obrigada a recuar da área. Incidentes menores iriam ocorrer durante todo o verão, até a formação, no mês de agosto, da Frente de Libertação Gay.

A FLG tomou Nova Iorque e a polícia de surpresa. Um ato "normal" da opressão cotidiana desencadeou uma resposta. A FLG realizou uma campanha contra os donos dos bares gays, os quais eram vistos como parasitas que exploravam os gays com seus preços exorbitantes e mantinham uma ligação com a polícia corrupta. A FLG realizava reuniões públicas, publicava um jornal, o Outcome, e organizou um dia de ação para retomar a Chrisropher Street das mãos da polícia - um dia para ser abertamente gay nas ruas.

Hoje em dia, manifestações pelo orgulho gay são realizados no mundo todo para celebrar a revolta de Stonewall. Ironicamente aquela revolta foi em parte um movimento contra os proprietários da "economia cor-de-rosa" - as pessoas que hoje estão na organização das manifestações.

Nenhum comentário: